MONTE DA ERMIDA DE SÃO LUIS
HISTÓRIA DE PORTUGAL - UM MILAGRE EM SÃO PEDRO DE POMARES, BALEIZÃO, BEJA
O Rei D. Dinis, andou por terras de Beja, nos confins da freguesia de Baleizão, adjacentes às de Pedrógão e de Selmes, no concelho da Vidigueira. Hoje reconhece-se no local a persistência da ocupação humana desde a antiguidade, pois são várias as estações arqueológicas dos períodos pré-histórico, romano e paleocristão, por escavar e é natural que muitos dos montes e quintas actuais – Cegonha, S. Pedro, Rabadoa, Lamarim e Paço Inchado, entre outros - se localizem sobre outros restos urbanos do período islâmico e do início do domínio português. Mas falemos do milagre e do local que o comemora.
Se do tempo do Rei D. Dinis pudéssemos datar com precisão os milagres das Rosas e o seu, evocador de S. Luís, bispo de Tolosa, talvez compreendêssemos melhor a razão porque fechou o rei os olhos à provisão que sua santa mulher, D. Isabel, distribuía entre os pobres. Se deixou passar, em primeiro lugar, o milagre das Rosas, criou, como contrapartida (estas coisas não se sabem, imaginam-se), as condições para sobreviver ao ataque fatal que mais tarde o poderia ter condenado. Se o milagre que o salvou foi anterior ao milagre das Rosas, então percebemos melhor o seu fechar de olhos ao “desvio” virtuoso dos bens da fazenda real e chegarmos à feliz conclusão de que um milagre nunca vem só – como diz, aliás, o adágio popular: Fazer bem sem olhar a quem ou Mãos que dão mãos que recebem.
Conta-se assim: Andava o Rei numa das suas muitas montarias, em Novembro de 1294, entre pequenas florações rochosas, mato e chaparral, para os lados de S. Pedro de Pomares, no lugar de Belmonte, no atual Monte de São Luis, na margem esquerda da ribeira de S. Pedro que desagua na ribeira de Odearça, afluente do rio Guadiana, quando o seu cavalo se ergueu tão rapidamente e de tal modo assustado que o projectou violentamente no solo. Passado aquele momento, o monarca recobrou o sangue frio e tentou assenhorear-se da situação e o que viu ainda o estarreceu muito mais, à sua frente sobre as patas traseiras, um enorme urso pardo que gesticulava grossas patas dianteiras de unhas afiadas, aprestando-se, via-se-lhe nos olhos sanguinolentos e nos urros ensurdecedores que emitia, para lhe dar o golpe fatal.
O cavalo, ferido, pôs-se em fuga, os súbditos, embora não muito afastados, viam gorados os seus esforços para protegerem o rei, pois o local, apesar de plano, era mesmo um embrenhado matagal de cobertura arbórea dispersa e arbustiva.
Mas o Rei D. Dinis, sem tempo para desbravar o terreno, não esteve com poesias e, antes que a besta o atacasse, tomou ele valentemente a dianteira. Invocou, em seu auxílio, o nome de S. Luís, bispo de Tolosa, recobrando um ânimo e uma força tão desmesurada, para um homem normal, que de um só golpe certeiro, desferido com o seu punhal, prostrou de imediato o animal, ferido de morte – milagre!Em honra de tal milagre mandou sua majestade construir uma capela na igreja do extinto convento de S. Francisco (actual Pousada), na cidade de Beja.
Dessa capela, dedicada a S. Luís, já nada existe, pois a igreja foi totalmente reformada no século XVIII. Todavia, no local do milagre, deixou-nos o Rei, segundo reza a tradição e a história, a ermida de S. Pedro de Pomares, construção que conserva ainda na sua estrutura elementos arquitectónicos dos períodos visigótico e posteriores, dos séculos XIII e XIV. Os próprios capitéis do nártex do templo de nave única são peculiares pelas cabeças invertidas e barbadas que ostenta